Clima, dólar e preço da carne explicam inflação acima da meta em 2024
Publicado em 10/01/2025 às 13:53
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
O aumento no preço dos alimentos, especialmente das carnes, os impactos do clima e a desvalorização do real frente ao dólar são os principais fatores que explicam por que a inflação oficial de 2024 superou o limite máximo da meta estabelecida pelo governo.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (10) que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano em 4,83%, ultrapassando o teto da meta de 4,5%.
Para calcular o índice, o IBGE coleta dados de 377 produtos e serviços, conhecidos como subitens, distribuídos em nove grupos. Em 2024, o grupo de alimentos e bebidas foi o que mais pressionou a alta de preços, com aumento de 7,69%, representando um impacto de 1,63 pontos percentuais (p.p.) no IPCA.
Esse aumento é o mais elevado desde 2022, quando chegou a 11,64%. Na época, o efeito foi atribuído a fenômenos climáticos, como o La Niña (resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, afetando temperatura e chuvas em várias regiões do mundo) e aos impactos da pandemia nas cadeias produtivas. Em 2023, alimentos e bebidas tiveram alta de apenas 1,03%.
Carnes
Entre os produtos analisados, as carnes foram as que mais influenciaram a inflação. Em 2024, os cortes de carne ficaram 20,84% mais caros, o que resultou em um impacto de 0,52 p.p. no IPCA. Este foi o maior aumento desde 2019, quando os preços subiram 32,4%. Em contraste, em 2023, o preço das carnes havia recuado 9,37%.
O aumento no final de 2024 contrastou com a queda observada no início do ano. Entretanto, o salto entre setembro e dezembro (+23,88%) foi suficiente para que o ano encerrasse em alta.
“Essa queda no primeiro semestre foi mais que compensada pelas altas do segundo semestre”, afirma André Almeida, analista do IBGE. Ele explica que as condições climáticas tiveram um impacto direto nos preços das carnes.
“Tivemos uma forte estiagem, ondas de calor e seca em diversas regiões do país, o que agravou os efeitos da entressafra, quando as pastagens ficam mais escassas”, detalha. Além disso, Almeida aponta que o ciclo da pecuária resultou em um menor volume de animais para abate, reduzindo a oferta e pressionando os preços.
Dentro do grupo de carnes, os cortes que mais subiram foram contrafilé (20,06%), carne de porco (20,06%), alcatra (21,13%) e costela (21,33%). Apesar de o café moído (+39,60%) e o óleo de soja (+29,21%) terem registrado aumentos maiores, as carnes exercem maior peso no IPCA devido à relevância na cesta de consumo do brasileiro.
“O clima tem um papel crucial na produção de alimentos. Tanto chuvas excessivas quanto secas podem comprometer a produção”, explica Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa.
Produtos não alimentícios
Entre os produtos não alimentícios, a gasolina – que tem o maior peso na cesta de consumo – registrou alta de 9,71%, representando um impacto de 0,48 p.p. no IPCA.
Câmbio
Outro fator determinante para o IPCA acima da meta foi o câmbio. Em 2024, o real desvalorizou 27% frente ao dólar, encerrando o ano com o dólar cotado a R$ 6,18.
“O câmbio impacta diretamente os preços de vários produtos, incluindo commodities alimentícias cotadas em dólar”, explica Almeida. Ele também observa que a desvalorização do real incentiva os produtores a exportarem mais, reduzindo a oferta interna e pressionando os preços.
Almeida ressalta ainda que o câmbio influencia o custo de produtos com componentes importados. “Há diversos mecanismos pelos quais o câmbio impacta a inflação”, afirma.
Inflação mensal
Ao longo de 2024, o país registrou 11 meses de inflação positiva e um mês de deflação. Em agosto, a inflação recuou 0,02%, influenciada pela queda na conta de luz e pelo alívio nos preços dos alimentos. O maior aumento mensal ocorreu em fevereiro (0,83%), impulsionado pelo reajuste nas mensalidades escolares.
Fonte: Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil