Arte, Crônicas e Poesia
Crônica: Café da Manhã do Gavião
Publicado em 22/03/2024 às 14:10
Segunda-feira, dia internacional da preguiça, início da semana de trabalho…como ainda
não sou aposentado, coloco a mochila nas costas, e vou para o ponto de ônibus,
aguardar a minha condução. Encontro com a minha irmã na mesma situação, com a
única diferença que ela já é aposentada.
O ponto que temos para esperar o ônibus, fica à sombra de uma árvore, ao lado de um
poste. De repente algo cai em seu cabelo, ela passa a mão, percebe que é cocô de
passarinho, limpa e continua no mesmo lugar. Penas começaram a cair também, como
uma chuva fina. Resolvo então olhar para cima, e para a minha surpresa, me deparo com
um gavião, depenando um pombo para seu petit déjeuner, breakfast, desjejum, o nosso
sagrado café da manhã.
Cai pena pra cá, pena pra lá, o gavião preparando o terreno para a sua refeição. A cena
logo chamou atenção das demais pessoas que aguardavam o ônibus, celulares à mão,
passaram a fotografar e gravar o pássaro em ação.
Que não gostou nada daquela invasão de privacidade, enquanto comia só a cabeça do
pobre pombo, segurando o corpo com uma das garras. E num momento de distração, cai
um corpo no chão…
Seu alimento escorregou de suas garras, justamente a parte mais carnuda da ave, que foi
deixada para depois, enquanto como um zumbi, saboreava o pequeno cérebro do
animal.
E agora? O que fazer? Nada foi feito.
O gavião ficou olhando lá do alto, observando o corpo estendido no asfalto, sua
preciosa caça, sem jeito e sem graça, não quis se dar por derrotado. Continuou em um
galho mais alto esperando, uma outra vítima desatenta, ou dispersar a multidão, para
recolher seu alimento, o sustento desse dia.
Nunca saberemos o desfecho dessa história, porque o ônibus chegou, embarcamos, e
deixamos o gavião pra trás…