POMERANA

Coluna Pomerana

Os Tropeiros em terras dos descendentes pomeranos

Publicado em 14/12/2022 às 08:56

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Jose Carlos Heinemann
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Parte I

Em março de 1973 eu estudava na Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa, um distrito de Afonso Cláudio/ES. Tinha vindo para fazer formação em diaconia. Vinha de Vila Mariana, um bairro da capital de São Paulo. Pouco conhecia sobre a terra onde os pioneiros imigrantes pomeranos haviam chegado em 1859, pelo Porto do Cachoeiro (Atual Santa Leopoldina). Essa cidade, onde se chega por uma estrada de chão batido, se localiza a 102 km de Lagoa. De automóvel se percorre esse trajeto em cerca de 3 a 4 horas. Das proximidades de lá, de Santa Maria de Jetibá, conhecia a aluna Christa Maria Miertschink.

Estávamos em aula. Subitamente, lá do alto do desfiladeiro, passei a ouvir o som de pequenos os sinos, que pareciam se aproximar cada vez mais. Corri até a janela e pude ver a passagem de uma tropa de burros. Estava vindo da Mata Fria. Passara por uma estrada estreita e íngreme, entre morros e vales e tinha passado rente a montanha Três Pontões (Fig. 2). Conduzia sacas de café da produção dos pomeranos para a cidade de Itarana, a 30 km de Lagoa. Os agricultores estavam vendendo a sua produção aos comerciantes, donos dos armazéns, daquela cidade.

Essa certamente era uma das últimas tropas de burros, ainda em atividade nessa região. Sua passagem se constituiu em uma cena que nunca esqueci. Naquela época, tanto as estradas principais como as vicinais dessas terras da região dos pomeranos eram de chão batido. Pode-se dizer que começavam em Porto do Cachoeiro (atual Santa Leopoldina/ES), com seus 17 a 33 metros acima do nível do mar e iam até Pedra do Garrafão, em uma altitude de cerca de 1450 metros.

A mula-guia, levava uma cinta com sinos, presa no pescoço (Cincerro). Pelos desfiladeiros por onde a tropa de burros passava, o badalar dos sete sinos, anunciava a sua passagem com bolsas de café (ou outros produtos). Eram grandes bolsas, contendo perto de 70 kg de café, fixadas em cada lado da cangalha, amarrada sobre o lombo dos animais. O café era produzido nos vales profundos ou nas altas
montanhas.

Por esses muitos caminhos, no lombo desses animais, a colheita dos colonos era transportada ao povoado de Porto do Cachoeiro, para posteriormente ser embarcada nas canoas ou barcos a vapor, que
seguiam pelo Rio Santa Maria da Vitória, até a cidade de Vitória, a capital do Estado do Espírito Santo.

As canoas não só transportavam a produção dessas regiões. Levavam também passageiros. Os que tinham condições financeiras, viajavam na chamada “primeira classe” ou “estância” e os passageiros menos abastados seguiam na segunda classe sobre a carga. Nessas pequenas embarcações, o canoeiro mestre levava consigo um baú com seus objetos pessoais, um buzo feito de chifre de boi, um instrumento de sopro para anunciar a passagem da canoa, uma caldeira de ferro, para o preparo das refeições em terra firme, valores em dinheiro a ele confiados e correspondências de outras Províncias ou do estrangeiro.

Para chegar ao porto de embarque, no povoado de Porto do Cachoeiro, hoje cidade de Santa Leopoldina, no Espirito Santo e seguindo pelo Rio Santa Maria da Vitória, que passava por essa localidade, era preciso vencer caminhos estreitas e perigosos. Muitas vezes a tropa de burros, vinda do alto da Serra de Caramuru e da Mata Fria, passava por trechos com muitas curvas e por encostas de montanhas, de difícil passagem. Os transeuntes dessas “picadas”, muitas vezes precisavam sair do caminho para permitir a passagem da tropa. O olhar atendo do viajante, parado perto desses precipícios, certamente podia contemplar essa magnífica paisagem se descortinando sobre todas essas montanhas e matas virgens.

Se fosse na primavera, certamente observaria uma verdejante da floresta, com seus jequitibás-rosa, ipês amarelos, rosa e cor de champagne e mais embaixo, na serra, a floração das sapucaias.

Em 1970 as informações sobre os pomeranos vivendo e trabalhando na agricultura familiar e na cultura do café, ainda eram escassas. Raras notícias surgiam nos jornais ou nas revistas da época. Em 1977 ainda era proibido falar em língua pomerana nas escolas estaduais em todo o estado do Espírito Santo. Em algumas escolas, como na cidade de Afonso Claudio, houveram verdadeiras represálias contra crianças que não conseguiam se comunicar em língua portuguesa.

Entretanto, no pátio dessas escolas as crianças brincavam entre si e, disfarçadamente conversavam no idioma que apreenderam com seus pais e avós. Foi no comércio e nas viagens que os pais das famílias aprenderam a utilizar a língua portuguesa para poderem vender seus produtos. Foi dessa forma que, os pomeranos começaram a falar mais e mais a língua de nosso País. Em geral, as crianças, que aos 7 anos de idade, quando chegavam nas escolas, apenas se comunicavam em pomerana, passavam a aprender a língua portuguesa no decorrer da sua alfabetização.

Mais duas obras importantes sobre os Pomeranos Brasileiros

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