Coluna Pomerana
Como os pomeranos vieram para o Espírito Santo
Publicado em 15/09/2022 às 16:13
Die deutsche Übersetzung des Briefes eines deutschen Urwald-Pastors Ende des
19. Jh. folgt in einer späteren Ausgabe.
Autor: Fritz Wilm, pseudônimo de Friedrich Wilhelm Hasenack, pastor em Santa Leopoldina/ES, de 1882-1890. Material repassado pelo neto do autor, o Pastor Emérito Johannes Friedrich Hasenack. Carta enviada ao seu irmão na Alemanha
Parte III
Facilmente se pode ver, que costumam passar anos até que [os colonos] passaram a ter algo para vender. Mas agora qualquer um já sabe que o esforço está compensando. E o que eles agora estavam plantando? [década de 1882-1890]. Claro, era algo que precisavam para se alimentar. E tiveram que experimentar o que iria crescer. Primeiro chegou o milho e o feijão, como também a mandioca, o aipim, a taioba, inhame e a cana-de-açúcar. Muitos gostavam demais de batata [inglesa)], mas onde consegui-la?
Depois de vários anos, alguns comerciantes de Porto Cachoeira trouxeram batatas de Portugal e passaram a vendê-las a quilo. Em alguns lugares [da colônia] elas se desenvolveram bem, mas em outros
não. O resultado realmente não foi satisfatório. Sempre, que se conseguia essas batatas para o plantio se voltava a plantá-las. A mesma coisa aconteceu com o trigo, centeio, aveia e a cevada. E quando esses cereais começavam a gramar, apareciam essas aves selvagens, especialmente os bandos de pássaros pretos, que mascam os grãos e os derrubam no chão; por isso muitos, depois de diversas tentativas,
deixaram de plantar arroz. Esses pássaros chegam como uma nuvem negra compacta, milhas de comprimento e largura. Não há ruídos ou tiros que consigam espantá-los.
O inhame e a batata doce prosperam melhor, a mandioca, por outro lado, não desenvolve tão bem e facilmente costuma apodrecer. Assim, as pessoas se contentam principalmente com a taioba, que é uma espécie inhame. Dessas, três espécies eram as preferidas. A taioba branca e amarela eram consumidas como a batata. As grandes folhas das brancas também podiam ser consumidas como verdura. Um tipo maior de inhame passou a ser usado quase que exclusivamente para alimentar os porcos, apesar de também poder ser adicionado na massa do pão. A taioba, especialmente a branca, apesar de ser gostosa, tem leve gosto de sabão e precisa ser preparada com um molho para se tornar mais saborosa. Por isso se planta mais a batata doce. Trata-se de um tipo de rama, com flores vermelhão-pálidas e que cresce para
cima. Para plantar a mesma, fixa-se na terra raminhos de dois ou três palmos de comprimento e que então lançam raízes, que terminam desenvolvendo tubérculos duros, brancos e do tamanho de um punho e que podem ser consumidos como a batata. Eles têm um gosto adocicado estranho, mas a gente se acostuma com eles.
Os pomeranos preferem comer pão. Sim, mas que tipo de pão? Um pão de farinha de milho. Para não deixar esse pão granulado secar tão rapidamente, se pode misturar um pouco de farinha de trigo na
massa, naturalmente, quando se consegue comprá-la. Também gostam de misturar um tubérculo na massa do pão. Esse cresce no solo e é chamado de cará. É uma planta que ramifica com grossos tendões e grandes folhas e desenvolve tubérculos do tamanho de um punho ou até duas vezes maior, revestido de uma casca grossa e áspera e que precisa ser descascado. Os tubérculos descascados, ralados em um ralador, dão uma massa gordurosa e espumosa, que misturada com a farinha de milho, deixa o pão solto e o mantém úmido por um longo tempo. Os tubérculos, cozidos como batatas, também têm gosto estranho e de sabão; existe também um cará aéreo que cresce na rama suspensa, onde os tubérculos se desenvolvem na inserção das folhas, mas que não se tornam tão grandes como o cará terrestre.
Mas, onde as pessoas conseguem moer o milho? Porque não havia moinhos. A necessidade torna a pessoa criativa. Por muito tempo, eles “quebraram” o milho em pilões de madeira que eles mesmos tinham esculpido [em um cepo ou tronco de árvore]. Mas este é um trabalho tão demorado e irritante que comer pão deveria ser abandonado. Daí alguém teve a ideia de construir um moinho. Mas, onde iriam conseguir as pedras para os moinhos? A rocha local é tão dura que não pode ser usada como pedra de moinho. E não se consegue perfurá-la e quando se consegue fazer furo nela, o explosivo colocado sai por cima e a rocha nem sequer apresenta rachaduras. Pode-se tentar usar pedras menores, que por milhares de anos já estão espalhadas pelo terreno, na esperança serem menos duras. Aqui e ali pode-se ter sucesso.
Uma vez tendo as pedras de moinho, logo alguém também será capaz de construir um moinho. Constrói-se uma casinha, como se poderia dizer, tipo uma pequena latrina, prepara-se um pequeno tronco de uma árvore tão longo quanto a altura da casa, prende-se uma roda d’água de cerca de um metro de diâmetro, em uma das extremidades, então se coloca este eixo na vertical e se passa a extremidade superior através de uma pedra já fixa na parte superior do moinho caseira. Na sua ponta superior se apoia a segunda pedra do moinho. Assim, o eixo com sua pedra de moinho na vertical fica no topo da casinha e a roda d’água fica abaixo, logo acima do chão. Terminado essa parte, lança-se um jato de água sobre as pás da
roda d’água e essa começa a girar.
Nessas montanhas, sua terra ou matinho, praticamente todos têm algum tipo de fonte de água que possa usar para uma operação tão simples. Viva! Que alegria!
Isso mesmo, essa coisa moe o milho em farinha que, provavelmente não é tão fininho, mas isso não importa, “dat wö wol biete” [certamente vão mastigá-lo]. É melhor do que moer o milho com uma máquina de café ou socá-lo no pilão de madeira. Logo aparece mais algulém, olha esse apetrecho, passa a gostar da idéia e também constrói esse tal do moinho e passa a aperfeiçoá-lo.
Agora as mulheres estão mais felizes e, para a alegria dos seus corações, podem assar pão em seus fornos feitos de argila, que eles também inventaram e construíram. Sim, eles até se atrevem a assar bolos peparados com farinha de trigo. Tudo está dando certo. É um milagre, quando eles se tornam cada vez mais orgulhosos de suas próprias habilidades e tentam de novo e de novo, para se tornarem melhores e mais confortáveis! Sim, com o passar do tempo eles também constroem moinhos maiores em riachos maiores, para moerem milho e pilarem o café. Tudo isso são suas próprias invenções.
Entretanto, até chegarem nesse ponto, muitos anos se passaram. É incrível o que eles próprios conseguiram realizar. Ninguém acreditaria, se os vissem nas suas casas limpas, com cozinhas e demais instalações, que esses artesãos improvisados conseguiram construir. Eles também sabiam como usar muitos recursos da mata, como por exemplo, para a preparação de cestas, até bastante delicadas e de aspecto artístico, para a preparação de cordas feitas de cascas de plantas, etc.
Mas, de quanta coisa tiveram que abril mão! Isso os obrigou a aprender a improvisar. Muitos anos de um indescritível esforço e muito trabalho se passaram até poderem chegar a essa situação. No começo tinham muito espaço para plantar os pés de café e esses foram plantados. Com isso eles puderam ter a perspectiva de, depois de seis anos, venderem café para terem nas mãos um dinheiro vivo. Então, foi esse o tempo que eles levaram para terem alguma coisa, ou seja, pelo menos 12 anos.
Nos primeiros seis anos eles simplesmente pecisavam ver como se manterem vivos. Nos seis seguines já podiam vender algo daqui, ou dali, e começaram a produzir algum alimento. Depois de 12 anos, finalmente puderam pensar em melhorar a sua habitação, construindo uma casa melhor e deixar suas cabanas de pau-a-pique para serem usadas como galinheiros. Após 18 anos, garantidos pelas colheitas do café, eles finalmente puderam ter um rendimento mais regular e constante. Nestes últimos seis anos, eles já podiam cortar vigas e tábuas de madeira para suas casas, galpões e estábulos o que, em geral, costumava ser feito em algum lugar na própria floresta. Então, essas vigas e tábuas precisavam ser carregadas por eles mesmos até o local na propriedade onde finalmente iriam se estabelecer. Habitualmente também as mulheres trabalhavam no beneficiamento dos barrotes e de tábuas, puxando a serra, auxiliando no seu transporte e ainda ficavam encarregadas do preparo das refeições.
Mas, o que lhes teria restado fazer nesses primeiros vinte ou trinta anos? Vendas, ou seja, casas comerciais não existiam nos primeiros seis anos, até que alguém, em algum lugar abriu um boteco. Depois de 12 ou 18 anos, em alguma localidade distante, começaram a surgir umas poucas casas comerciais, com uma maior variedade de produtos. Até lá, a alimentação costumava ser escassa e muito simplório. O vestuário também era bastante simplória e eles consideravam um luxo vestirem-se com roupas mais vistosas. No entanto, suas roupas de domingo, que tinham trazido de lá [da Pomerânia], costumavam ficar cuidadosamente guardadas, na espera por tempos melhores. Mas muitos não tinham nada disso.
Não havia médicos, farmácias, escolas ou igrejas. Nos casos de doenças, dificuldades e falecimentos, precisavam encontrar suas próprias soluções. Também não havia artesãos. No meu tempo (1882-1890) havia apenas dois ferreiros em toda a colônia. Mas, que tipo de ferreiros eram eles? A maioria apenas tinham visto uma ferraria em algum lugar por lá [na Pomerânia] e aqui simplesmente começaram trabalhar. O mesmo aconteceu com carpinteiros, pedreiros, sapateiros ou alfaiates. Mesmo assim, depois de tantos anos já conseguiam fazer um belo trabalho. Eles tinham se tornado seus próprios mestres.
Depois de 18 a 24 anos, finalmente tinham derrubado mata suficiente, tinham plantado, feito suas construções e se organizado e a propriedade passou a ter melhores condições de habitabilidade. Já havia espaços para plantação de gêneros alimentícios, pastagens para o gado e plantação de café. Além disso,
também haviam adquirido galinhas, gansos, vacas, cavalos. Esses últimos serviam tanto para o transporte como para montaria. Para alcançarem tudo isso, quanto esforço, planejamento e preocupação foi dispensado e que vontade de ferro foi preciso para chegar até aqui!