Coluna Pomerana
Rituais pagãos entre os pomeranos
Publicado em 19/08/2022 às 15:14
Todas as pessoas supersticiosas têm um apego infundado a determinadas coisas. Elas seguem conselhos oriundos de crendices populares. Enfim, são pessoas que acreditam que estas ações, sejam elas voluntárias ou não, como rezar, portar amuletos ou participar de rituais que possam influenciar o dia a dia de suas vidas. Por meio deste pensamento mágico acreditam obter resultados não atingíveis dentro do modo de agir lógico, pois, por meio de certos rituais passariam a poder contar com poderes sobrenaturais para atingir os seus objetivos.
De uma forma ou de outra, as crendices sempre existiram entre os diferentes povos como também entre os pomeranos. As pessoas quando, perguntadas, naturalmente sempre dizem que a bruxaria e as bruxas não existem e que isto não faz parte da sua crença. Pode até acontecer de muitas vezes as pessoas inventarem estas crendices, porém, na prática não diga: “Para quem acredita, funciona! Mas, para quem não acredita nada acontece!”
Neste aspecto vale citar o termo “andaun”, também conhecido como “mau olhado.” Assim, por exemplo, quando uma criança é muito bonita e tem olhos azuis a primeira coisa que as pessoas sempre fazem é olhar para os olhinhos. “Ah, mas que olhinhos bonitinhos!” Fala-se em mau olhado, mas não quer dizer que isto tenha acontecido com maldade. Mau olhado, como alguns dizem, foi um “oifakika” (visto de
uma forma como não deveria ter sido olhado ou, não se deveria ter olhado).
O mesmo vale para alguns sinais identificados na natureza, como exemplo, no que se refere ao grito do gavião ”hakalo” (anauê). Era um sinal, segundo a crença, que precisava ser observado. Como se dizia na língua do povo: “É que, quando alguém morria, ele começava a gritar. Se ele canta, é porque alguém morreu. Se canta em uma árvore verde vai chover, se canta em uma árvore seca alguém morreu.
Certamente são vestígios dos tempos do paganismo de muito séculos atrás. O povo pomerano tem muitas peculiaridades e também crenças, para quem olha de fora, no mínimo curiosas. Entre estes elementos também podem ser incluídos o “Schutzbraif” (Carta de Proteção), o “Himmelsbraif” (Carta do Céu) e o “Engelsbraif” (Carta dos Anjos), que se constituíam em uma espécie de amuleto com poderes mágicos de proteção. Na verdade um ou outro destes costumava ser utilizado de acordo com a convicção do seu portador. Na Carta dos Anjos havia a figura de um anjo, o texto estava escrito em letra gótica antiga que a maioria sequer conseguia ler. Na verdade o “Schutzbraif” tinha uma função semelhante ao que entre os cristãos católicos têm aquelas correntinhas de pescoço com as imagens dos santos.
Muitos pomeranos antigos realmente acreditavam que, se tivessem uma carta de proteção no bolso, mesmo que alguém tentasse golpeá-los com uma faca, ou tentasse atingi-los com uma arma de fogo, sempre estariam protegidos. Eles realmente acreditavam no poder mágico destes amuletos. Inicialmente apenas havia os modelos impressos em língua alemã. Posteriormente foram surgindo outros modelos, com a mesma configuração, porém já traduzidos para a língua portuguesa. Mas, havia também os manuscritos com a transcrição de um pequeno texto.
Como facilmente se pode deduzir, tudo isto fazia parte de um costume muito combatida pelos pastores
alemães, mas que, mesmo assim, há séculos vem sobrevivendo nas famílias dos defensores destas crenças. As pessoas ainda hoje os conservavam com muito carinho, ou até os expõem nas paredes na forma de um quadro emoldurado.
Muitos hábitos e costumes que durante séculos eram praticados na antiga Pomerânia, talvez uma herança do tempo de paganismo, continuaram vivos durante os primeiros cem anos entre os pomeranos que se fixaram aqui no Brasil. Os chamados ritos de passagem se constituem em uma espécie de elo a formarem um círculo que inicia pelo nascimento, passando pelo batismo, pela confirmação, pelo casamento, fazendo o fechamento com a morte, na esperança por uma nova vida.
O pomerano cultiva os rituais que representam uma passagem para uma nova fase da sua vida, a começar com o Nascimento envolvido em segredos e cuidados, seguido pelo batismo em que acriança começa a ser protegida por uma áura do “ser cristão”. Já em um momento posterior, a confirmação dá-lhe o status de adulto. Com ele passa a poder fumar, beber e dançar. Por último, já como adulto, ao ingressar no casamento passa a viver sua fase de plenos direitos. Agora, casado, usufrui a sua vida plena, cuidando da prole, cumprindo com o seu destino de dar continuidade à espécie. A morte, com todo o seu cerimonial, em que as janelas da sua casa são abertas, para que o espirito possa sair livremente e a ceia com Wittbrot (pão branco), preparada pelas vizinhas e servida depois do sepultamento para saciar a fome dos viajantes que aqui chegaram para uma última visita, irá fechar todo este círculo da sua vida.
“AROMAS E SABORES DA COZINHA POMERANA” GERÜCH UN GESMÄK FONE POMERISCH KOIKEN
Carlos da Fonseca
[email protected]
Lançamento de livro é um evento corriqueiro, felizmente, porque escritores e editores não param suas atividades, embora no Brasil pouco se leia. Porém, o lançamento do primeiro livro de receitas pomeranas, que aconteceu no dia 6 de agosto, em Santa Maria de Jetibá, foi ímpar por ser único e não só por se tratar de um livro bilíngue (português e pomerano) mas também por ser uma coletânea de receitas
culinárias coletadas de onze mulheres que as têm feito por suas próprias mãos, passadas de geração em geração oralmente, já que a língua pomerana só tem sobrevivido falada e poucas pessoas a escrevem.
Ainda, mais, porque o tal livro e o seu lançamento foram feitos “em mutirão”, como é característica da Cultura Pomerana. Explicamos: muitas tarefas do dia-a-dia pomerano, sobretudo lavouras, colheitas, construções, festas, etc. por tradição e cultura têm sido feitas (e ainda hoje o são e este livro é exemplo disso) pelas pessoas se juntando e se ajudando umas às outras.
O livro teve a participação de quatro autores organizadores: Simony Küster Gude; Josiane Arnholz Plaster;
Ismael Tressmann e Anivaldo Kuhn. E teve onze autoras colaboradoras que, garbosamente, cederam as “suas receitas”, essas em número de 30 que o livro publica. São elas: Adélia Schulz Berger, Adriele Schmidt Klemz, Ana Clara Küster Gude, Angelina Kopp Schmidt, Dalila Zager Kuster, Erika Zager Erdmann, Leda Gums Kruger, Rita Lick Erdmann, Simony Küster Gude, Terezinha Schiffelbein Malikowski e Zilda Berger Guilherme. A publicação, como referimos, é bilíngue e mostra fotos das receitas servidas quando do lançamento do livro em que os participantes em elevado número prestigiaram todo o evento. Fotos, escrita em pomerano, escrita em português, revisão de textos, tudo foi feito por colaboradores a título
de gratuidade numa simbólica manifestação da rica Cultura Pomerana. O livro está à disposição dos interessados, pelo valor de R$ 30,00. Para maiores informações: (27) 99925-8665 (Telefone e WhatsApp de Simony) ou pelo seu e-mail: simonykuster@ibatiba