Arte, Crônicas e Poesia
Publicado em 24/02/2022 às 16:47
Nasci e cresci em São João de Garrafão. Um lugar lindo, que tem como cartão-postal a Pedra do Garrafão. Foi nesse lugar que vivi grande parte da minha vida, e de onde tenho as melhores e mais lindas memórias.
Quando criança, em minha casa, não tínhamos energia elétrica. As nossas noites, nossas conversas, as brincadeiras, eram embaladas por lamparinas abastecidas com querosene. O dever de casa era feito à base de lamparinas. Quantas e quantas vezes fui â escola com a nariz preto devido à fumaça que saía da lamparina, e sem contar as vezes em que coloquei fogo no cabelo! Fazer o dever de casa à base de lamparina não era para qualquer um!!!
A nossa vida era muito simples, mas mesmo na simplicidade, nós tínhamos o essencial. Éramos felizes com o pouco que tínhamos e vovô Abraão era responsável por grande parte da nossa felicidade. Todas as manhãs, meus primos e eu, todos damesma idade, íamos tomar café na casa do vovô. Na verdade, nós íamos comer rosca com leite.
Meu Deus!!! Como eu amava sentar à mesa com o vovô, ouvir suas histórias e comer. Só de lembrar me deu água na boca! Vovô adorava ver a mesa cheia de netos. Mas a vovó ficava brava, nós nem ligávamos, pois o nosso xodó era o vovô.
Vovô Abraão era um homem muito à frente do seu tempo, gostava de ler, escrever e, principalmente, de contar histórias. E ele tinha muita história para contar. História de um homem que viveu em tempos de guerra, que sentiu na pele a ditadura militar e, de quebra, foi o primeiro professor em Garrafão. Ele tinha muito orgulho de ter sido professor. Adorava contar os desafios que enfrentou na profissão
Tenho orgulho de ser neta desse homem que foi um exemplo de sabedoria, não só para sua família, mas para toda uma comunidade. Como tenho saudades de poder ouvir suas histórias que eram fascinantes. Tenho saudades daqueles cabelos brancos e dos olhos azuis mais intensos que já vi.
Hoje, a minha saudade tem nome, sobrenome. Tem cor: azul e branco.
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