Coluna Pomerana
A força da água como propulsora do desenvolvimento
Publicado em 01/11/2021 às 09:16
Milenares, se considerarmos sua origem, os moinhos além de povoar nosso imaginário como símbolo de “tempos antigos”, foram sinônimo de prosperidade e sem dúvida um elemento culturalmente inserido em muitos povos.
O moinho hidráulico (d’agua), especialmente aqui no Vale Europeu, nos conecta diretamente com nossos ancestrais. Sua origem remonta da região do Mediterrâneo helenístico (região da Grécia com abrangência em parte da Ásia Central e Norte da África), no entanto, moinhos de vento já existiam a quase 2.000 anos a.C. na China. “Moinho”, deriva do latim “molinum” que significa moer ou triturar.
Uma grande inovação na escala evolutiva da humanidade, os moinhos foram sendo difundidos em várias regiões ao considerar o fluxo de pessoas como artesões, monges, mercadores e navegadores, e, principalmente, classificados em dois grupos, moinhos de água e moinhos de vento. Também há os moinhos movidos a tração animal denominados de atafona. Na Europa, inicialmente utilizados pelos gregos e romanos, foram se espalhando pelo continente. Como a etimologia da palavra nos traz, a inicial e principal função era moer cereais e transformá-los em farinha.
No século IX o moinho d’água já se encontrava difundido no ocidente, no entanto, seu pleno desenvolvimento ocorreu entre os séculos XI e XIV. Os europeus, após dominarem completamente a tecnologia dos moinhos hidráulicos utilizados tanto para fins artesanais e industriais (a principal tarefa era moagem de grãos), se voltaram para o aproveitamento da energia eólica. Meados de 1170, surgem os primeiros moinhos de vento na Europa, se proliferando nas terras baixas onde não havia correntes rápidas de água. Quando pensamos em moinhos de vento, logo lembramos dos Países Baixos (Holanda), lá na maioria das vezes utilizado para acionar bombas hidráulicas movidas a energia eólica, construídas para drenar água (boa parte das terras na região estão abaixo do nível do mar).
Os moinhos de vento no início eram feitos de madeira e depois passaram a ser de ferro. Na Alta Idade Média, toda construção de moinho tinha atribuído a ele o nome de um santo que o introduzia em determinada região, denota a forte influência religiosa na época. Da mesma forma, no período feudal, os moinhos pertenciam aos senhores, e só podiam ser utilizados por servos e camponeses mediante ao pagamento de uma taxa, considerada abusiva. Numa época com baixa Fig 4 – Moinho hidráulico da família Ramlow em Pomerode. É possível observar a roda d’agua e parte da construção na técnica enxaimel (destaque em vermelho). Acervo: Heinz Ramlow e Família Hydraulische Mühle der Familie Ramlow in Pomerode. Es ist möglich, das Wasserrad und einen Teil der Konstruktion in der Fachwerktechnik (rot hervorgehoben) zu beobachten. Sammlung: Heinz Ramlow und Familie movimentação monetária, o moinho foi um dos mais importantes instrumentos na economia de subsistência.
O pagamento pela moagem dos cereais era feito com um percentual da farinha obtida, normalmente oscilava entre 5% e 10%. O pomerodense Rogério Siewert relata que o milho por exemplo, foi fundamental para a sobrevivência das gerações Siewert em solo brasileiro, “…o milho branco era o mais importante de todos e era processado num moinho da região, de cada 10 kilos de milho deixados para moer, 08 kilos de farinha retornavam e 02 kilos ficavam com o moinho pelo serviço”. O proprietário da moenda por sua vez comercializava a farinha com famílias que não plantavam milho branco para que assim pudessem ter na mesa seu Maisbrot (pão de milho). Associado ao moinho, destaca-se a atividade do moleiro, que poderia trabalhar para o dono do moinho ou ter a sua própria “Mühle” (Moil na língua pomerana/platt). Nestes casos, além do homem que geralmente executava essa atividade, se envolvia todo o núcleo familiar incluindo a mulher e os filhos. O moinho também pode ser evidenciado como um “centro de convivência social”.
Os camponeses transportavam para os moinhos os sacos de cereais, e o tempo que esperavam para transformar os grãos em farinha, era momento de compartilhar as novidades da comunidade e fazer novos negócios. No início da colônia Blumenau e conforme relato no “Blumenau em Cadernos de novembro de 1957”, no ano de 1857 a pequena “indústria” estava representada por 5 engenhos de farinha de mandioca, 5 de açúcar, 3 alambiques para cachaça e álcool, 2 moinhos de fubá e 2 engenhos de serrar madeira. Dr. Blumenau já demonstrava preocupação com o bem-estar da pequena vila nos seus relatórios de 1852 e 1853 ao Governo Imperial, num trecho do relatório ele destaca “… Com a ajuda dos carpinteiros e do construtor de engenho em breve um moinho para fabricar a farinha de milho e de arroz e outro engenho de serrar madeiras, os quais hão de contribuir para o bem-estar dos colonos e aumentar os meios de subsistência.
Arranjo ao mesmo tempo aos colonos os víveres necessários e todas as mudas, sementes, etc, de que carecem para poderem se dedicar sem perda de tempo aos seus trabalhos na roça…”. Naturalmente que Dr. Blumenau estava preocupado com a prosperidade da sua colônia, e o moinho, estava lá como algo que poderia propulsionar esse processo. Ainda no relatório de Dr. Blumenau de 1853, ele destaca “…para um moinho de milho mandei duas grandes pedras e as ferramentas necessárias de Hamburgo e espero que ele seja montado em poucos meses, suprindo uma grande necessidade da colônia…”. Os moinhos fizeram parte desde o início da colônia nas paisagens do hoje denominado Vale Europeu, no estado de Santa Catarina